quarta-feira, 1 de abril de 2009

O Que Plantar!


Aquele fora um dia diferente... A tarde caía rápida e fria e o vento na folhagem amarelada anunciava que a chegada do inverno estava próxima. Marcos, era um garoto de dez anos e se acostumara às alegrias descontraídas de sua pequena família, composta pelos pais e uma irmã mais nova que com ele compartilhava as brincadeiras infantis. Mas a vida nem sempre nos reserva surpresas agradáveis. Era isso que Marcos descobrira naquele dia em que contemplava o corpo do pai, a quem tanto amava, estendido num caixão sobre a mesa. Todos enxugavam o pranto, mas ele tinha nos olhos grossas lágrimas que se recusavam a cair. Nunca tinha experimentado um sentimento igual. Era como se algo dentro do seu coraçãozinho tivesse se partido em mil pedaços. O enterro foi consumado... A vida deveria seguir seu curso, mas em seu lar faltava alguém. Faltava a figura respeitável do pai amado. Sobrava um lugar à mesa. Sobrava o pedaço de frango predilecto do papá. O pudim demorava-se no frigorífico. E Marcos pensava em como suportaria tanta amargura e saudade. No entanto, de volta às aulas, às brincadeiras com a irmã, aos piqueniques, às tardes no parque, trouxeram novo alento ao seu coração juvenil. Um dia, a visita de uma amiga da família trouxe de volta as lembranças tristes. A mãe falava da falta que sentia do marido. Dizia que a saudade lhe acompanhava de perto e que era difícil a vida depois que o marido morrera. E Marcos que, não muito longe escutava a conversa das amigas, aproximou-se e disse com a segurança de quem tem certeza: - Mamã, disse-me que o papá morreu, mas eu asseguro que isso não é verdade. A mãe olhou-o com ternura e desejando consolá-lo, disse:
- Sim filho, o papá vive além da cortina que nos separa dele momentaneamente. - Não, mamã!
O papá vive e viverá para sempre.- Ele vive em mim através de tudo o que me ensinou...
- Quando sou obediente, eu sinto-o em minha intimidade porque foi ele quem ensinou-me a obedecer.
- Quando sou honesto, lembro-me das muitas vezes que ele enalteceu a honestidade. - Quando perdoo os meus amigos, quase o ouço dizer: "filho, quem perdoa não adoece porque não guarda o lixo da mágoa na intimidade".
- Quando sinto que a inveja deseja instalar-se na minha alma, lembro-me de ter ouvido de seus lábios: "a inveja é um ácido corrosivo que prejudica quem a alimenta." - E quando, por fim, meu coração se enche de saudade e penso que não mais a suportarei, uma suave brisa trespassa o meu ser e ouço a sua voz falando baixinho: "filho, eu estou ao teu lado, não duvides".
- E é assim, mãezinha, que eu sei que papá não morreu. Sinto que ele continua vivo, não somente atrás da cortina que temporariamente nos separa, mas também através da herança de amor que legou a todos nós. Quem deseja plantar apenas por alguns dias, planta flores... Quem deseja plantar para alguns anos ou séculos, planta árvores. Mas quem quer plantar para a eternidade, planta ideias nobres nos corações daqueles a quem ama.

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